segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

No trânsito


Hoje, eu vi um homem chorar.
O homem dirigia e nada falava.
Paramos por um longo tempo no engarrafamento do sinal. Eu e ele, lado a lado. Ainda não chorava, não por fora, mas por dentro certamente há muito tempo.
A dor que vi no perfil dele latejava; ele, imóvel, fixava qualquer nada à sua frente, com uns olhos de tristeza, o rosto abatido.
Rosto de um bronco - traços fortes e brutos, barba por fazer, rugas das vivências, e o jeito de ser uma muralha humana.
E os olhos tristes da muralha humana começaram a encher. Desejei poder abraçá-lo.
Ele mantinha a mesma expressão, a mesma posição, desde que parei a seu lado, era uma estátua. E a estátua principiando a encher dos olhos, eu senti a sua dor, e senti o mundo parar. Meu olhar sobre ele era quase sólido, as paredes do ônibus podiam senti-lo, mas ele não sentia.
E por fim uma lágrima vazou. Eu, como ele, já nem ouvia mais as buzinas.
O homem se mexeu: secou com as costas da mão a face esquerda, a que eu via, e depois a direita. E então me viu que o olhava. E olhou para mim. A densidade do meu olhar tornou claro que eu o observava. Que o via nu. Tentei sorrir uma espécie de sorriso de compaixão. Ele entendeu. Fechei os olhos e o abençoei. Quando abri-os, andaram os carros: ele seguiu viagem e eu também.

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