quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ciclos

A adolescência é o carnaval da vida. A quarta-feira de cinzas, a passagem para a “adultice”, quando a gente sente uma dorzinha no coração porque a folia acabou, mas estamos cansadas e sem energia pra continuar na bagunça. Ao mesmo tempo, dá aquele frio na barriga saber que amanhã, um novo ciclo de rotina e batalha começa.

O valor das regras a gente só entende depois de tentar, por anos, romper com elas.
Fazemos tudo ao contrário, como que para testar se realmente o “careta” faz sentido.
Depois a gente percebe que provavelmente as regras sociais foram construídas depois de anos que a própria sociedade testou outras maneiras de viver.
Após muitas tentativa e erro chegou ao formato agora instituído.
Talvez porque assim dê mesmo mais certo do que de outros jeitos.
A verdade é que a gente vai ficando mais conservadora com o tempo, e ser careta começa a fazer sentido. De repente a gente se vê valorizando coisas que antes negávamos porque encarávamos como “coisa de pai, de velho”. Mas, um dia, nos pegamos repetindo as atitudes e valores pregados por nossos pais. E passamos a enxergar o “velho” como “maduro”.

Depois de muito bater a cabeça, vejo vários amigos ficando mais “certinhos”, se encaixando no status. Gente que já pirou bastante, que já fez muita “besteira”, tendo uma vida super regrada. Amigos que enchiam a cara hoje negando uma latinha de cerveja.
Amigos antes superbaladeiros, que viviam trocando o dia pela noite, hoje negando uma boa balada para acordar cedo. Amigas que torravam no sol do meio dia, se enchendo de filtro solar, debaixo do guarda-sol, quase irreconhecíveis com óculos e boné. Outras que chegavam a ir para a mesma cidade que moram os pais num feriado e nem entrar em contato com eles porque preferiu ficar num ap alugado curtindo com a turma de amigos, nesse carnaval deixou de ir pra avenida pra visitar os pais que moram longe.

Eu chego a sentir uma certa estranheza de ver tudo diferente. Mas, também percebo que a mudança não foi à toa. Nem repentina, apesar de parecer. E não se pode dizer que a vida vai ficando mais chata e mais medíocre depois de adulto. Porque chato é aquilo que nos desagrada. E, em cada fase, a gente muda de motivação, e coisas antes desagradáveis passam a se tornar superprazerosas.
Se num período da vida a família é sinônimo de opressão, em outro é o mesmo que acolhimento e amor. Se num momento casar-se era o mesmo que perder as baladas de solteiro, de repente passa a significar ganhar uma vida muito mais rica. Se crianças já foram um dia vistas como “pentelhas”, hoje são pura alegria. Se ficar em casa já foi encarado como tédio, hoje pode ser paz.

É esse dinamismo da vida que nos equilibra. Mas a gente só entende isso depois de passar por várias fases, e pensar que cada uma delas vai durar pra sempre.
Até que chega-se à conclusão de que pós-moderno é ser conservador.
Um círculo virtuoso: depois da modernidade, a volta à caretice.

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